A Arte Rupestre do Vale do Tejo

Em Outubro de 1971 foram identificadas as primeiras gravuras picotadas nos xistos das margens do Tejo na região de Ródão. Estava-se já então na fase de construção da barragem de Fratel, que encerraria as suas comportas em Abril de 1974. Durante esse curto período temporal foram detetadas milhares de gravuras, na sua maioria de tipologia pré-histórica.

A sua distribuição espacial, muito dispersa pelos bancos xisto-grauváquicos rasgados pelas águas, alongava-se precisamente por toda a área abrangida pela albufeira de Fratel, que assim acabaria por submergir uma percentagem calculada em cerca de 90% da totalidade do que ficaria conhecido como o Complexo de Arte Rupestre do Vale do Tejo.

Apenas o núcleo de Gardete e algumas rochas isoladas na margem direita do Ocreza, ambos para jusante de Fratel, ficaram permanentemente fora das águas presas desta barragem. Entretanto, no setor mais a montante, as rochas historiadas situadas a cotas mais elevadas do grande núcleo de S. Simão, já muito perto da barragem de Cedillo, reaparecem a espaços fruto da contingência do ritmo de subida e descida dos caudais do rio condicionados pelas barragens.

A criação deste Centro de Interpretação da Arte do Tejo assinala um encontro de gerações. Ele é simultaneamente uma homenagem aos artistas taganos que nos legaram um dos mais ricos arquivos gráficos da nossa pré-história, e também uma homenagem à “Geração do Tejo”, esse grupo de arqueólogos e estudantes que há cerca de 40 anos aqui trabalhou, voluntária e arduamente, e com isso contribuiu para que não se apagasse nos nossos dias a memória simbólica desses povoadores pré-históricos por tantos milénios perdida no rio do tempo …

António Martinho Baptista