A Simbólica na Arte do Tejo

A arte do Tejo é uma escrita antes da escrita. Longe do naturalismo sintético paleolítico, ou das narrativas incisas da Idade do Ferro, a gramática figurativa do Tejo desdobra-se por esquemas tão simbólicos quanto abstratos. As formas geométricas ou geometrizantes são as mais comumente gravadas. E o círculo é a forma mais disseminada a um ponto tal que pode pensar-se ter o círculo e suas variantes um significado e uma dimensão de absoluto, uma forma onde tudo se contém. O círculo será para os gravadores taganos a forma conceptual perfeita. E não apenas enquanto simples forma gráfica, mas enquanto representação simbólica com uma pluralidade de valores e de significados. O círculo é pois, gravado como uma espécie de ex-voto, a forma simbólica por excelência dos gravadores taganos.

Pode por isso mesmo, pensar-se, que um círculo, particularmente na fase de apogeu do geometrismo simbólico tagano como nos grandes painéis do Cachão de Algarve, poderia ter o mesmo significado que um cervídeo ou até um antropomorfo, ambos a requererem uma execução mais elaborada.

No espaço cénico tagano, como é configurado pelos painéis que entretanto foram sendo descobertos, há poucas narrações convencionais. São muito poucas as cenas descritivas, eventualmente ou não de caráter mitográfico, e cada rocha gravada ou painel deve ser lido também de acordo com a sua envolvente, isto é, a própria paisagem ribeirinha. Foi este aspeto, reforçado pela análise da arte rupestre das sociedades de primitivos atuais (como os San, da África do Sul, ou os Aborígenes australianos) que se perdeu com a inundação dos sítios rupestres.

A densidade de testemunhos rupestres que aqui foram deixados permite, no entanto, pensar-se, que o curso do Tejo teria sido objeto de uma qualquer sacralização, tendo as suas margens sido monumentalizadas através da arte rupestre.